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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Texto não publicado no Mimo

No meio da correria, houve um texto meu que não saiu no site Mimo e do qual nem eu me lembrava mais. Fica aqui no blog para constar.

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Verdi, Wagner, Stravinski e Marlos Nobre para o grand finale

Por Carlos Eduardo Amaral

O concerto de encerramento do MIMO 2013, esta noite, no palco da Praça do Carmo, em Olinda, traz uma homenagem aos dois maiores expoentes da ópera no século 19, Richard Wagner e Giuseppe Verdi. Lembrados este ano pelo seu bicentenário de nascimento, o músico alemão e o italiano dividem o programa com Igor Stravinski, por razão dos cem anos de estreia de A sagração da primavera, e com o pernambucano Marlos Nobre.

Com a participação do soprano Edna D'Oliveira e regência de Isaac Karabtchevsky, a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa se apresenta a partir das 18h e abrirá o concerto com uma peça do atual regente titular interino da Sinfônica do Recife. Movimentos sinfônicos, cujo subtítulo Em memória de um anjo espelha-se no do Concerto para violino de Alban Berg, foi escrita em 2011 por encomenda da Orquestra Petrobras Sinfônica e estreada por ela no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 27 de março daquele ano, sob regência do mesmo Karabtchevsky.

A intenção da obra foi prestar tributo à memória de uma das filhas do maestro e de sua mulher Maria Helena. Conforme comentou o compositor, especialmente para o portal Movimento MIMO, “o subtítulo, igual ao do Concerto para violino de Alban Berg, me veio ao espírito de maneira espontânea e tão imediata que não hesitei em colocá-lo na partitura. Naturalmente, eu bem sabia que Berg havia composto seu Concerto coincidentemente em memória de Manon, filha do grande amigo dele Walter Gropius e morta aos 18 anos. Isso não foi empecilho para minha dedicatória à querida filha do meus amigos Isaac e Helena”.

Marlos revelou que havia escrito um pequeno coral (uma passagem em forma de coral, não uma peça para coro) antes de receber a encomenda da peça, e que o tema desse coral vinha-lhe insistentemente à cabeça passando a inspirar-lhe toda a concepção dos Movimentos sinfônicos. Convidado a fazer uma resenha da própria peça, o compositor assim a resumiu ao portal Movimento MIMO:

A primeira seção se inicia em uma atmosfera explosiva e trágica, apresentada por toda a orquestra. O clima, portanto, é de muita emoção e dramaticidade. Gostaria de salientar que eu não provoquei intencionalmente esse clima inicial, essa atmosfera angustiante e dramática apenas se apossou de minha mente imediatamente ao começar a escrever a partitura. Logo aparece uma ideia melódica mais lírica nas cordas, que vai levando pouco a pouco a um dos três primeiros grandes clímax de toda a orquestra.

A segunda parte é enlaçada sem interrupção e a serenidade é alcançada com o tema principal do coral, exposto pelas madeiras e instrumentos graves e sustentado pelas cordas em pianíssimo. Há então uma espécie de jogo tímbrico entre o tema apresentado nos instrumentos graves e as madeiras, tecendo um fervilhar de notas em um cânone de 25 vozes. Segue, também sem interrupção, após longas interjeições da orquestra em diferentes grupos, uma terceira seção onde acontecem transformações rítmicas e melódicas.

Ligeiras melodias são sobrepostas à reexposição do coral, recriando paulatinamente a atmosfera de intensa angústia e dramaticidade. O coral principal finalmente alcança os metais em uma última exposição de grande intensidade. Um último golpe da orquestra em fortíssimo marca o início da coda final, onde pouco a pouco as dissonâncias derivadas de uma escritura contrapontística cerrada levam finalmente à intensa claridade do acorde perfeito maior final.

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