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sábado, 1 de junho de 2013

Sinfonia das Florestas, de Ricardo Tacuchian

Nos dias 19, 20 e 21 de junho, nas respectivas cidades espanholas de León, Ávila e Salamanca, acontecerão as primeiras execuções europeias da Sinfonia das florestas, do carioca Ricardo Tacuchian.

A execução da peça de quarenta minutos de duração e quatro movimentos (1. Amazônia; 2. Cerrado; 3. Queimadas; 4. Mata Atlântica), que utiliza poemas de Amadeu Thiago de Mello e Gerson Valle, ficará a cargo da Orquestra Sinfônica do Conservatório Superior de Música de Castela e Leão, com regência de Javier Castro, e terá como solista a soprano Sofía Pintor Aguirre.

No mesmo concerto, serão tocados o Choros n° 10 de Villa-Lobos e El sombrero de tres picos, de Manuel de Falla. Abaixo, seguem as notas preparadas pelo próprio compositor sobre a sinfonia, a qual foi dedicada a seu mentor artístico, o paraibano José Siqueira.

***

Sinfonia das Florestas
Dedicada a José Siqueira
Rio de Janeiro, 2012

I mov. Amazônia/ Amazon rain forest ca 12 min. 30 sec.
II mov. Cerrado/ Brazilian savannah ca 6min. 30 sec.
III mov. Queimadas/ Forest fire ca 8 min.
IV mov. Mata Atlântica/ Atlantic jungle ca 12 min. 15 sec.

Total time: ca 40 min.

Sinfonia em 4 movimentos para orquestra sinfônica e solo de soprano

Orquestra: 3-3-3-3/ 4-2-3-1/Timp. Perc. (3)-harp/strings; soprano solo

Textos: Thiago de Mello, Filho da Floresta (no primeiro movimento); Gerson Valle, Dentro da Mata Atlântica (no quarto movimento).

Sinfonia das Florestas é uma obra que guarda algumas referências da forma Sinfonia. Apesar de se referir às florestas brasileiras, é, na realidade, uma metáfora de todas as florestas do mundo que correm perigo de desaparecer. Assim, no 1º movimento, Amazônia, depois de uma introdução lenta, onde são explorados os ruídos da floresta, surgem duas idéias contrastantes que se alternam, criando a dialética dramática que caracteriza a forma sonata: uma parte instrumental (Allegro) segue a parte com solo de soprano (Moderato) que apresenta um caráter mais introspectivo, de acordo com a natureza do poema Filho da Floresta, de Thiago de Mello: “os silvos, os lamentos, os esturros [urros de onça]/ percorrem vibrando as distâncias/ da planície, que os tajás [tinhorões]lambem as feridas.” O poeta se diz “filho deste reino generoso” e faz um convite: “vem ver comigo o rio e as suas leis,/ vem aprender a ciência dos rebojos [redemoinhos do rio],/ vem escutar os pássaros noturnos,/ no mágico silêncio do igapó” [mata inundada de água]. O poeta encerra sua laudação, dizendo que os homens nascidos naqueles verdes são “profundamente irmãos/ das coisas poderosas, permanentes/ como as águas, os ventos e a esperança”.

O 2º movimento, Cerrado, é um Allegro Vivace que corresponderia ao Scherzo da sinfonia clássica. Ele é exclusivamente orquestral e simboliza a mata esparsa, com árvores baixas e morada de um riquíssimo bioma. O cerrado é a savana brasileira e corresponde a cerca de 22% do território nacional.

Queimadas é o movimento lento da Sinfonia (Adagio). Também é exclusivamente instrumental e começa revelando uma harmonia quase religiosa de toda a natureza, mas que é quebrada pela prática criminosa do desmatamento: derrubadas e queimadas, provocadas pelo homem para aproveitar o terreno para pastagens e plantio e o uso indiscriminado de agro-tóxicos que matam os agentes polinizadores da floresta

e contaminam a água do subsolo. Toda a harmonia inicial é substituída pelo caos, provocado por árvores centenárias abatidas e pelo fogo esterilizando o solo e pela extinção de espécies animais e vegetais. O que se segue é um imenso vazio, a seca das fontes de água ou sua contaminação, o deserto e um apocalíptico silêncio...

O 4º movimento Mata Atlântica (Vivace) tem a atmosfera do Finale das sinfonias do passado. O texto poético de Gerson Valle Dentro da Mata Atlântica foi dedicado ao compositor que nasceu na área deste ecossistema. Quando surge o solo de soprano, o andamento passa a Moderato e, depois, a Allegro Moderato. No texto, o poeta se lamenta pela destruição da Mata Atlântica. Apesar de sua catastrófica devastação, reduzindo-a a apenas 7% de sua área original ela é, ainda, um dos mais ricos ecossistemas do planeta. O poeta chora pela ação deletéria do homem, com o desaparecimento progressivo de sua rica biodiversidade como a jaguatirica, o sagui, os pássaros coloridos ou com a poluição dos rios antes caudalosos. “Aqui já não há saci oculto/ dentre os clarões desabrigados,/ devastações dos homens.” Mas o poeta não perde a esperança e, por fim, afirma: “E aqui há de vir um outro saci/ não mais escondido ou predador/ na lenda disfarçada de nossa humana maldade./ Ainda aqui tem feição o homem só/ em sua nova percepção instintiva, dobro de lobo guará/ a proteger a diversificação da sobrevida, nosso habitat”.

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