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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sergio Roberto de Oliveira lança CD com o Gnu, homenageando Fernando Pessoa


Fábio Cezanne

A música contemporânea brasileira resiste bravamente e um dos seus pólos mais criativos fica no Rio de Janeiro, onde grupos de câmara e compositores vêm se destacando não apenas em território nacional quanto no exterior. O compositor carioca Sergio Roberto de Oliveira, indicado ao Grammy Latino em categorias de música clássica nos últimos dois anos, é uma dessas grandes referências atuais que não abre mão de divulgar a própria música e a de terceiros, escrevendo obras para formações diversas, sempre acompanhado por intérpretes de raro talento.

Uma dessas brilhantes parcerias na seara da música contemporânea pode ser conferida no CD “Cartas de Amor” (A Casa Discos, R$20,00 em média), uma homenagem a Fernando Pessoa nos 125 anos de seu nascimento, produzido pelo próprio compositor, tendo como intérprete o Gnu, grupo carioca que está completando 10 anos de formação e para o qual Sergio Roberto de Oliveira vem escrevendo e dedicando peças desde 2009.

Ao todo, o CD reúne sete obras do compositor, abrindo com “Quadrado”, apresentando grande pluralidade de materiais, com referências matemáticas e certo sabor nordestino. “Poema Meu”, escrita a partir de um poema do próprio compositor, traz uma sonoridade romântica a partir de um texto que brinca na abordagem de sua insegurança em ser daltônico. A peça “Cartas de Amor”, com poema de Fernando Pessoa, contesta a idéia daqueles que julgam ridículo expor os sentimentos, algo tão comum hoje em dia. Na música, a cantora é censurada pelos músicos, que, de forma agressiva, a reprimem, dando início a uma batalha entre o sentimento e a razão.

Em seguida, “Baobá” faz uma homenagem do compositor ao livro “O Pequeno Príncipe”, e “Canção de Nuvem e Vento”, composta sobre poema homônimo de Mário Quintana, ambas alusões carinhosas à infância do compositor. O amor e seus desdobramentos também inspiraram as obras “3 Olhares sobre uma moça bonita”, em três movimentos, e “Ciclo”, que encerra o disco como uma história de amor bem lúdica entre uma clarineta e uma flauta.

“Fazer música clássica contemporânea é uma delícia. Novos pensamentos, novos sons, criar a expressão do mundo de hoje. Mas é também um ato de resistência”, revela Sergio Roberto de Oliveira. “Como Tom Jobim dizia, temos que inventar o Brasil. Ainda temos, mesmo depois de tanta gente. E aí vem a maravilha: as boas companhias nessa resistência, nessa invenção. E o Gnu, certamente, é uma das minhas melhores companhias. É um privilégio ter ideias e sons interpretados por eles”, acrescenta.

Foto: Divulgação.

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